Andamos adormecidos na vida
Como ursos no inverno
Hibernados na dor da calmaria
Os ventos mudam
A primavera passa
E continuamos Atordoados no passar dos dias
Sempre na mesma corda lisa e calma
De quem não se arrisca
De quem tudo teme e nada faz
De quem tem medo da própria tentativa
Sempre no mesmo tom e indiferença
De quem foge das emoções
De quem teme um medo desconhecido
De quem nada faz por mudar
E assim se passa inverno atrás de inverso
Vida atrás de vida
Dormência permanente e fria
Não se agita nem se move
Dificilmente se desvia
A mudança assusta
E nós petrificados caminhamos
Sem nos importarmos com a estrada
Atrás das folhas de outono
Ou das flores da primavera
Sem oscilações nem amarguras
Hibernados num sono profundo
Caminhando sem propósito
Numa estrada que não conhecemos
No sonho de outros vagueando
Tentando sentir um pouco das suas almas
Almejar aquilo que outros querem
Voar em asas que não são nossas
Sobrevoar com quem nem me identifico
Passear aqui e ali sobre pés que nem são meus
Não percebem irmãos …
Que a fruta não é doce se nunca tivermos provado a amargura?
Que uma gargalhada das entranhas vale mais que uma vida de sorrisos?
Que o desconhecido nos mostra sentimentos novos ?
Que a mudança te faz sentir viva?
Que quando arriscas te tornas mais forte?
O vento quando passa não te arrasta, não te move
A lua quando brilha não te toca, não te guia
O sol quando abre não te pega, não te aquece
As ondas no mar não as ouves, não te fazem chorar
A brisa que ilumina não a vês, não a sentes
Acorda sem medo
Não morras antes do último suspiro !
Ines 2019